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quarta-feira, 28 de março de 2012

O Artista e Cantando na Chuva

Uma combinação de prazos a cumprir, filho pequeno e variadas demandas familiares me afastou do cinema nos últimos meses. Eu queria quebrar o jejum com "A invenção de Hugo Cabret". Estava marcado, mas não deu.

Ontem, depois de alguma engenharia de horários, conseguimos nos organizar. Fui assistir a "O Astista", sem esperar muito do filme. O Oscar não é nenhuma garantia de qualidade, como provam algumas porcarias retumbantes (lembram de "Titanic"?). Assim, fui com o espírito desarmado, já bastante contente por estar indo ao cinema com a Nikelen. E o resultado foi que, verdadeiramente, não gostei do filme. Me pareceu sem-gosto, com um roteiro tão fraco que nem as referências a outros filmes, nem o carisma dos atores pôde salvar. O filme simplesmente não me "pegou". Não há empatia com uma história pueril e cheia de clichês que não funcionam. Lá pelas tantas, chegava a ser constrangedor e comecei a olhar as horas no celular.

Talvez a maior referência do filme seja "Cantando na Chuva", cujo tema-enredo é quase o mesmo: um grande astro do cinema-mudo tem que se reinventar com a chegada dos filmes falados. A singela diferença é que "Cantando na Chuva" é divertido e nos prende do início ao fim. E olha que não gosto de musicais. Na verdade, eu temei não querendo ver o filme por anos a fio. Até o dia em que a Nikelen me arrastou para a frente da televisão. Foi um dos filmes em que mais ri em toda a vida. Até dos números musicais eu gostei. Já o assisti uma dezena de vezes.

A conclusão da noite foi que nem a telona nem prazer da sala de cinema valeram "O Artista" e que só o chopp e a companhia puderam salvar a noite. Talvez tivesse sido melhor ficar em casa de abrigo e moleton, abrindo um vinho para aproveitar o início do outono e assistindo "Cantando na Chuva" pela décima-primeira vez.


sábado, 25 de fevereiro de 2012

Terra Sonâmbula, de Mia Couto

Comprei “Terra Sonâmbula”, primeiro romance do escritor moçambicano Mia Couto, há dois ou três anos. Comecei a ler, parei com um terço do livro lido. Tinha intenção de retomar logo, mas não o fiz. Neste fevereiro ardente de férias sem viagem, meti a mão na estante e resolvi tentar a sorte de novo. Comecei a ler e não conseguia parar. Qualquer interrupção me deixava louco de vontade de voltar ao livro. Os enredos se passam em Moçambique, durante a guerra civil que esfarelou as estruturas daquele mundo, e falam de pessoas que têm que inventar um novo modo de viver em meio a esse caos.

 Terra Sonâmbula. Mia Couto. Companhia das Letras,  2007.


O menino Muidinga nada recorda sobre seu passado. Tudo que sabe é o que lhe conta seu companheiro de jornada, o velho Tuahir. Este, com serviço de enterrar corpos em um campo de refugiados, acabou por salvar Muidinga de ser enterrado vivo. Ensinou novamente o menino a andar e falar, mas nada pode informar sobre o que este teria vivido antes. Os dois, então, vagueiam pela estrada em meio às desordens da guerra, aos assaltos dos bandos armados, aos desmandos das autoridades. Tudo é perigo naqueles lugares. Encontram um ônibus carbonizado à beira da estrada e fazem dele um abrigo. Próximo ao veículo percebem uma mala. Dentro, há cadernos onde um tal Kindzu conta sua jornada. Durante o dia, saem para explorar a região. Durante a noite, o menino lê as histórias para o velho. Conforme avançam na leitura, percebem que é como se o ônibus em ruína pudesse mesmo viajar no espaço, porque a paisagem e as gentes que encontram de dia são sempre diferentes. O livro traz ambos os enredos em paralelo.

Eu entendo quase nada da África ou de Moçambique, a não ser algumas referências de pesquisas históricas ou o que me contaram amigos que ali viveram. Com certeza há no livro muito que, para alguém como eu, não é possível alcançar. Há propriedades metafóricas na história do menino sem memória, que vaga em meio à destruição da guerra que se seguiu à independência do país. O menino procura por essa memória, que também pode ser lida como uma busca por identidade e pela capacidade de dar sentido àquele mundo estilhaçado. Do mesmo modo, a relação da tradição com os novos tempos aparece a toda hora. Por exemplo, no fato de Kindzu ter abandonado sua aldeia, deixado de servir aos ancestrais vivos e mortos e, então, ser amaldiçoado pelo espírito de seu pai, que lhe segue na viagem. Ou então na inadequação de uma modernidade importada que rende algumas passagens hilárias, os poucos momentos risíveis em um livro que provoca, mais que isso, um contínuo aperto no peito do leitor. Provavelmente, os personagens a quem se vai encontrando e desfiando as histórias também são caminhos para pensar aquele lugar: Dona Virgínia, o Fazedor de Rios, o velho aldeão Siqueleto, o português Romão Pinto, o administrador Estêvão Jonas.

Porém, como todos os grandes livros, “Terra Sonâmbula” permite diferentes apropriações, rende sonhos e pensares diversificados. Toda a obra é tecida com uma linguagem poética dotada de profundo lirismo, que põe a gente a sentir.

- É o que, mãe?
- É que estou grávida maistravez.
A velha devaneava, sonhatriz. Com aquela idade como poderia ela se duplicar? A voz dela, porém, trazia certezas capazes de me confundir.
- Estou grávida, filho. Não é de agora, é já de muito tempo.
- Muito tempo, quanto?
- São anos que guardo essa criança. Nem quero ela nascer nesse tempo. Fica assim dentro de mim, me companha o coração.

Por toda parte, há laços que se romperam, familiares, amigos, amantes que se buscam. Kindzu é perseguido pelo espírito de seu pai, o velho Taímo. Porém, por vezes o chama, quer carinhos paternos, muito dificilmente conquistados. É parecido com Muidinga e Tuahir. Este, de certo modo, também pai daquele, porque lhe trouxe para a vida quando estava quase morto. No mesmo caminho está Farida, amor de Kindzu, em busca de seu filho desaparecido. É um mundo roto, onde cada um é um sobrevivente tentando escapar da guerra, seja à procura de seus queridos que se perderam, seja em busca de outro lugar, uma terra em paz. Em meio a tantos fragmentos, contar histórias é quase uma dádiva. Os escritos de Kindzu sobre sua vida são matéria para que Muidinga componha seus próprios sonhos, para que vá conferindo sentido ao mundo que, a custo, procura entender. É Muidinga quem conta essas histórias para Tuahir, que lhe retribui com as suas. E o mesmo ocorre com os diversos personagens que os protagonistas dos dois enredos encontram.

Para mim – um contador de histórias e também filho e também pai – essa foi, de tantas belezas ali encontradas, a principal ressonância do livro de Mia Couto. 


segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

No Museu D'Orsay

Eu sempre gostei da pintura europeia produzida da segunda metade do século XIX até o Entre-guerras. Desde quando eu nem sabia que era disso que se tratava. Só via os quadros, as cores, a luz e ficava olhando longe. Assim, estar por quatro meses em Paris, em 2006 e não ir ao Museu D’Orsay, onde há enorme coleção de arte impressionista, era algo fora de cogitação. Mas confesso que não foi fácil. O lugar é muito disputado. Na primeira vez em que tentamos, ficamos mais de hora na fila, com chuva e frio, até que desistimos. Na segunda vez, fomos muito intencionados. Aguentamos duas horas e meia e entramos lá. E tudo valeu.
O Orsay é uma antiga estação de trens cuja arquitetura preservada combina perfeitamente com os quadros pintados naquele fin-de-siècle.


Fica à beira do Sena e, se nem houvesse qualquer coisa dentro, já valeria uma visita.

Não se pode fotografar as pinturas, mas o resto pode.

O texto abaixo foi o que escrevi assim que saí de lá. Na época, enviei para alguns amigos. Como vocês poderão ver, pela dicção do texto, o Orsay me lançou um feitço e eu me criancei por vários dias (mas, como vêem pela foto, não era só eu: é comum ver essas turmas inteiras de crianças, fascinadas, a contemplar e perguntar tudo aos professores).

Paris, 13 de maio de 2006
Fomos lá no Orsay e adoramos bastante. Verdade que tinha um punhado de gente atrapalhando de ver os quadros: uns italianos gritando e esparramando as mãos pra tudo quanto é lado; umas alemoas grandonas, maiores que os homens que vão com elas (dizem que são as tais de norvegianas); uns miles de japoneses: tudo correndo de cá pra lá e batendo foto. Dá vontade de botar todos pra fora... Mas deixemos pra lá, que sou um sujeito de raivas muito passageiras.
Tem os quadros!!!! Os do Manet olham pra gente de um jeito tão intenso que encabula. O menino com o pífaro é de ficar horas. Ele toca a flauta e olha pra gente ao mesmo tempo. É uma inquietação. Da mesma forma que todas as pessoas bem brancas contra os fundos escuros que ele gostava tanto. Até umas jovens nuas. Olhando pra gente. Sempre.

Depois, eu entrando numa sala grande, alta e, da porta, vi que lá na outra parede amanhecia. E, ao lado, fazia tarde a pino. Logo adiante, estavam recolhendo os bichos porque estava anoitecendo. Era tudo Pissaro, que eu passei a amar desde já.

Indo adiante, tinha um quadro do Claude Monet no qual recém tinham tomado café e as coisas ainda estavam sobre a mesa, no jardim, as cadeiras vazias levemente afastadas. Em volta da mesa, fazia uma manhã tão morna e o dia prometia ficar tão lindo, que eu quis entrar pra dentro e mandar os Monet tudo embora. Toca daqui porque quem vai morar nessa casa agora sou eu. Tô cobiçando sim! Quem mandou gavar? É pra já que eu trago minha linda, espalho meus livros, boto rádio pra ouvir jogo do Colorado e nunca ninguém vai dizer que isso aqui não sempre foi meu.
Isso sem falar da ponte verde onde um dia eu ainda vou passar lá e respirar bem fundo...
Quando fui ver o Van Gogh tinha tanta gente na frente que eu quis dar uns cotovelaços, mas a Nika não deixou. No entanto, mesmo com aquele barulho todo, os camponeses tiravam uma sesta no amarelo. Campo de feno. Logo, ia chover. E nos outros quadros todas as cores e formas eram muito apropriadas para sonho. Inclusive o azul.

Eu sempre gostei do Degas. Porém, agora gosto mesmo. Pois, como vocês sabem, eu aprecio de coração e de melancolia os quadros do Hopper. Vocês me acreditam que eu estava passando os olhos numa parede e havia um quadro do Degas que tinha o Hopper todo nele?! Foi daquela matéria ali que o Hopper puxou, puxou, esticou, arrumou, botou uns silêncios e criou sua própria obra. Mas ele tem que dar federação ao Degas. Nessas coisas das solidões, o Degas exerce PRIMAZIA.

Mas de tudo, tudo, tudo que eu vi naquele dia; e aí vou incluindo o Sena com a Rive Droite encostada nele; e boto também as moças do Gauguin acarinhadas numa cor de manga madura que eu conheço e amo desde menino; pois de tudo isso, o que me tirou mesmo de mim, e me estendeu pra muito maior do que eu sou, foi mesmo uma pintura do Lautrec. Porque ele, que tudo caricaturava com amargor, pintou uma cena eterna. O quadro se chama

“Dans le lit”

estava em uma sala escura e eu nunca tinha visto... Não tem como descrever. E nem vou tentar. Nem procurem na internet, porque a visão dele aqui, em uma tela de computador, não tem condão. Nem é o mesmo quadro que vendo lá. Um dia vocês vão lá e vejam. E façam dele algo seu. E até posso apostar que ele continuará com vocês, da mesma foram que ele está trespassado em mim, desde então.

sábado, 28 de janeiro de 2012

Monty Python, o sonho não acabou

A maioria de nós tem ídolos. Os jovens, especialmente, parecem buscá-los com fúria e fome. E cultivá-los, às vezes transformando-os em emblema e expressão de sua forma de estar no mundo.

Quando eu era adolescente, meus amigos enchiam as paredes de seus quartos com fotos e poemas e quadros do Pink Floyd, Led Zeppelin, Che, García Lorca, Neruda, John Lenon, Bob Marley, U2, Mandela.

Eu gostava de alguns desses. E de outros que não estão nesta lista. Mas me mantinha vigilante contra todo tipo de idolatria. Um pouco por soberba, afinal, aos 16 anos, eu era pura pretensão. Mas muito por uma atitude cínica que me indicava que ninguém merecia tamanha adesão, que eu iria quebrar a cara quando descobrisse que meus heróis eram humanos, cheios de falhas, de vexames.

Essa mesma atitude, porém, me preparou para receber os filmes dos Pythons com um impacto inesperado. O non-sense, o humor absurdo, a crítica mais do que inteligente, genial. Foi assim que, para louvor ao deus dos paradoxos, me tornei um fã. E eles, que tanto repetiram “vocês têm que pensar pelas próprias cabeças”, se tornaram ídolos. A vida é mesmo engraçada.



Um amigo meu ganhou uma filmadora VHS. Uma coisa espantosa. Enorme. Formamos um grupo e fizemos duas sub-produções mimetizando (e muito mal, é claro) o humor dos Pythons, igualzinho aos outros guris que construíam bandas de garagem, imitando seus heróis. Assisti arrepiado, felicíssimo e meio enlouquecido ao primeiro documentário em que os via em vida civil, falando mal uns dos outros, lembrando ora divertidos, ora melancólicos, ora furiosos dos tempos em que pertenciam ao grupo.

Eles satirizaram com muita inteligência o absurdo presente em tudo: no mito fundador da pátria inglesa (Em busca do Cálice Sagrado), na religião (A vida de Brian) e na própria existência (O sentido da vida). Fiéis a si mesmos, nem o funeral de seu grande integrante, Graham Chapmam, em 1989, escapou.



Eu decorei as falas dos filmes, e até hoje reajo a situações cotidianas com algumas delas, sobretudo as de “A vida de Brian”: “é... mas isso não é culpa de ninguém, nem dos romanos”, “fizeram tudo isso e o que foi que eles nos deram em troca? – Um Aqueduto... – Cala Boca!”, “isso, vá... seja crucificado, não pensa na sua pobre mãe...”

Pois agora, o Igor Natusch compartilha uma notícia veiculada neste blog,  dando conta da possibilidade dos ingleses se reunirem de novo, ainda que sem Chapmam, naturalmente. E eu, imediatamente, abro outra tela e começo a escrever esse texto. Espero que isso se confirme.

Viva os Pythons, com sua genialidade e seus defeitos.  Afinal, o que nos resta ante ao caos e a falta de sentido, senão rir e olhar sempre para o lado brilhante da vida?

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Larry e Maria

Certa vez, um amigo disse que não entendia como eu podia gostar desse filme. É que eu sou bobo, respondi. Eu gosto da música, gosto da história, sei alguns diálogos de cor (e os utilizo no dia a dia!), gosto demais da Maria e do Larry. Eles estão no meu primeiro círculo de afetos.

E esta cena é belíssima.

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Cidades invisíveis, mundos infinitos - pensando sobre Calvino, Pólo e o Kahn

Este post do Milton Ribeiro, bem como os comentários ali realizados, me fizeram voltar a Calvino e Borges. 

Amo “As cidades invisíveis”, de Calvino. É uma das minhas 10 obras preferidas (que, na realidade, devem somar mais de 50, entre elas Ficções, do Borges). Parte do texto abaixo, é transcrição do meu comentário lá no post.

Uma das coisas que mais gosto no livro de Calvino é o fato de que Kublai Kahn conquistou/herdou o maior de todos os impérios, mas está condenado a jamais conhecer muitos de seus territórios. Ele é um imperador incompleto. Quem olhar para ele, poderá ver vazios pungentes aqui e ali em seu corpo imperial. O Império é grande demais para os limites dos deslocamentos a cavalo, em camelo, nos barcos a vela e remo. O Império é grande demais para uma única vida. Assim, para conhecer o seu próprio Império e, de alguma forma, conhecer a si mesmo, o Imperador precisa dos outros, das narrativas que lhes fazem.

Então, ele faz uso de emissários, encarregados de viajar pelos confins e dar-lhes a conhecer através de seus relatos. Dentre eles, Marco Pólo é o mais amado, não porque viaje mais rápido ou percorra maiores distâncias, mas por sua arte de narrar. É através da palavra de Pólo que se presentificam as cidades para Kublai Kahn. Através, portanto, de um jogo inter-subjetivo que articula três pontas: o próprio Imperador, o narrador-viajante e as cidades, que nunca se saberá se existem mesmo ou se têm aquela forma. Mas não importa, porque a narrativa é o modo delas existirem para a experiência do grande Kahn. Pólo é o mago que restitui a inteireza ao imperador despedaçado.

Mas ninguém se engane com essa minha conversa sobre limites e inteireza. Outra característica do império do Kahn, e também das narrativas de Pólo, é que não se pode demarcar com certeza as suas fronteiras. Nas suas fronteiras não há muralhas. Há sim imensos espaços vazios, outros que são estradas, rios, oásis onde se misturam povos vizinhos e os habitantes do Império. Por ali vão e vêm o vento, os mercadores, os fugitivos, os viajantes.

O fato de ser impossível conhecê-lo de todo facilita-lhe a qualidade de infinito, de algo que pode ser continuamente reconstruído.

(ao que parece, a imagem que usei é o Mapa Mundi, de Fra Mauro, do século XV, talvez inspirado nas narrativas de Pólo. Busquei neste site aqui)

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Oito motivos para ser amigo do Milton e da Cláudia


Claro, há muitos outros motivos, mas estes são alguns:

1- São receptivos, divertidos e inteligentes. Além disso, a Cláudia é bonita e o Milton é simpático!




2- Um dia, se tiver muita sorte, você poderá ser recebido na Edícula Real, no Solar da Gaurama, com sua sugestiva cortina de banheiro.


3- Você pode queimar o forno de micro-ondas deles e nada te acontece!


4- A Juno não pega.



5- A cozinha mágica da Cláudia


6- O Milton acredita nas minhas mentiras.


7- Eles têm amigos fascinantes, que podem virar seus amigos também!


8- Na casa deles, quando menos esperar, você pode ser surpreendido pela verdadeira BELEZA.

sábado, 17 de setembro de 2011

E não há horizonte que chegue

Porque entardece e é sábado e chove levemente. Porque a tarde se esvai em cinza, mas não é que seja triste. Porque, para essas horas, é que se inventou o horizonte no sul, para olhar mateando. Porque me assombro vagarosamente e deixo o tempo chegar em mim. Porque não conhecia esta música e ela me abriu uma planície na alma e me trouxe tudo isso.


quarta-feira, 13 de julho de 2011

Voltando para New Orleans. Dia Mundial do Rock

A origem de "The House of the Rising Sun" é controversa e há quem diga que deriva de antigas canções medievais inglesas. Ao menos, isso parece ter sido assumido pelo "The Animals", quando construíram essa versão emblemática, que começa justamente lembrando uma canção de bardo. 
Quem não conheça o grupo e escute a música inadvertidamente, talvez imagine um vocalista com longos cabelos a cair sobre os ombros, roupas colantes e negras, postura agressiva, quase mística. Ao ver o vídeo da gravação original, talvez fique fascinado pelo surrealismo que vem a nós, no século XXI, ver esses meninos que lembram aos desavisados um visual meio-beattles meio tripulação da Entreprise. Todos seus contemporâneos.
Mas atente para o prenúncio do progressivo, para a virtuose do teclado, para a força do vocal.



A música, porém, não parou aí e teve muitas outras versões. De todas, destaco uma que de tão bela, alcançou para mim o status de verdadeira maravilha. Ela tem vida própria. Nos leva direto aos sons negros, doloridos e poderosos de New Orleans, cuja beleza e tragédia está na letra. E é com Nina, em uma configuração estética de quadro pintado figurando o jazz. Com outra virtuose no piano. Com sua voz que me toca na pele.


De onde nasceu e como foi temperado o rock? Tornou-se matéria de protesto, de erotismo, de dor e beleza. Do sul faulkneriano dos Estados Unidos. Do norte industrial da Inglaterra. Da Idade Média. Da África sem tempo. Feliz Dia Mundial do Rock. 

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Amigos Perdidos - I

Onde está Vitor Simon?
Hoje fui levado por um vagalhão daquilo que o Quintana chamara de "marés montantes do passado". Cometi a imprudência de abrir uma pasta que eu mesmo havia etiquetado, sei lá quando, com a palavra "memória". Fui abrindo papéis com textos e textos e textos. A maioria meus. Da adolescência ou pouco depois. Uma pá de coisa para me envergonhar. Outras mais a estranhar. Escritas por um sujeito que pouco reconheço. O que já era de se esperar, afinal, quase uma vida passou.
Mas, no meio das minhas coisas, lá estavam algumas páginas esporádicas com outra letra. Eram contos e poemas do meu amigo Vitor Simon. Queríamos ser escritores. Trocávamos esses papeluchos eventualmente, para apreciação crítica ou simplesmente para nos comunicarmos.
Eu tinha amigos mais próximos. Eu era um sujeito espalhado. Ele também tinha muitos outros amigos, mesmo sendo bem alemão. Mas, lendo os textos, percebi que gostava muito das nossas conversas. Ganhei dele as Iluminuras, do Rimbaud. "Para ler entre um aniversário e outro", está no cartão.
Do nada, me veio a perfeita percepção de que gostaria de tomar uma cerveja e ter longa conversa com o Vitor. Saber se ainda escreve. Trabalha no que? Se tem filhos, se vive com quem ama. Que coisas andou vendo nesse tempo todo. Meu bom-senso imediatamente me lembrou que amigos assim, afastados há década e meia, melhor é que não se encontrem. Sempre são melhores na memória. Já tive uma experiência triste que deveria ter me vacinado definitivamente contra isso.
Mas, sabe como é, uma das minhas características mais notáveis é que, vez por outra, costumo meter os pés pelas mãos. 
Então escrevo este post, como uma garrafa ao mar.
E sou tão desajuizado, que talvez transforme isso numa série.
Eu sou um desastre.

domingo, 15 de maio de 2011

Grêmio 2x3 Inter (Inter campeão nos pênaltis) - O Imprevisível e as constantes universais


É sabido que o Imprevisível é um dos deuses do futebol. Mas é um deus caprichoso. Hoje, ele deixou que se mantivessem seis constantes universais. E resolveu se manifestar por intermédio de apenas um jogador. Ele veio do limbo e seu nome era Zé Roberto.

Primeira constante universal: a zaga do Inter toma um gol com sua ridícula linha do impedimento. Dessa vez foi Lúcio, recebendo lançamento primoroso de Douglas, jogador que consegue irritar as duas torcidas em campo. Falcão sabia que tinha que fazer algo para solidificar a defesa porosa do Inter. Pensou que colocando Juan na lateral esquerda e, à frente da defesa, uma linha com três defensores (Bolatti, Guiñazú e Kleber), iria minimizar o problema. Ledo engano. O time não se achava, o amontoado de jogadores na defesa virou uma geleia que não conseguia conter os deslocamentos de Viçosa e Lúcio pela esquerda e os lançamentos de Douglas. Nos primeiros 25 minutos, o Grêmio fez um gol e amassou o Inter. Deu um banho de bola. Juan deu um pataço no lépido Leandro e amarelou-se. A torcida tricolor chegou a gritar Olé. Os colorados temeram um fiasco histórico.

Segunda constante universal: Leandro Damião faz, ao menos, um gol por jogo. Aos 25 minutos, Falcão trocou Juan por Zé Roberto, revertendo o esquema chama-derrota que, tal qual o Grêmio fizera na final da Taça Farroupilha, tinha o condão de perder para si mesmo. Eu gritei “Burro! O que tu tem contra o Oscar, seu Merda!”. O imprevisível mostrou que o burro sou eu. Zé Robernight jogou como nunca no Inter. Em casa, Celso Roth sorria com aquela cara de “Viiiuuuuu!!”. Em tabela com D´Alessandro, Zé Roberto foi ao fundo e cruzou. A bola era mais para o zagueiro do Grêmio, mas e daí? Leandro Damião, que Celso Roth deixava na reserva de Alecsandro antecipou-se e, tranquilo e infalível como Bruce Lee, tocou no cantinho. Agora eu cantando para Roth: Viiiiuuuuu!!

Terceira constante universal: se estiver razoavelmente equilibrado e jogar com raça, um time que tem jogadores melhores tende a ter maior volume de jogo do que um time com jogadores de pior qualidade. Mesmo ainda longe de jogar bem, o Inter equilibrou a partida. Em um rebote de escanteio, Andrezinho, tal qual fizera no Gre-Nal anterior, desferiu um golpe cirúrgico entre 397 jogadores do Grêmio. GOLO!! Note-se que mancava há cinco minutos. Andrezinho com um pé só: o Saci colorado!

Quarta constante universal: Sendo Vitor o goleiro do Grêmio, tomará gols decisivos desferidos pelos pés de Andrés D’Alessandro. No segundo tempo o Inter era melhor, tinha mais volume de jogo. Os 40.000 tricolores no estádio sentiram a barriga esfriar com a possibilidade de perder um título que, menos de hora atrás, parecia estar ganho. Zé Roberto, infernal, invadiu a área do Grêmio, mas estava muito pela ponta. Vitor saiu fabiocostamente e atingiu o jogador colorado em um carrinho desgovernado. Fosse Márcio Rezende de Freitas o juiz, Zé Roberto seria expulso e o Grêmio estaria comemorando o título. Mas não era. Pênalti corretamente marcado por Leandro Gordinho Vuaden, em atuação quase perfeita (só falhou porque poderia ter expulsado Guiñazu quando, acometido de seu costumeiro zumbido na cabeça, deu um carrinho violento em Douglas). D’Alessandro bate no cantinho, Vitor raspa com a unha na bola. Buxa! Bola nas redes. 1x3 Inter Campeão. Pega a bandeira e vamos para a rua! Ainda não: haviam outras verdades a serem cumpridas.

Quinta constante universal: Renan sairá de do gol de modo estabanado e tornará emocionante um jogo que se encaminhava bem para o Inter. O Grêmio retomou o controle da partida depois do gol do Inter que, inesperadamente, resistia bem. Renato colocou em campo dois atacantes. Bola na área do Inter, a zaga do Inter olha para os lados, Rafael Marques está no banco, Viçosa no chuveiro, não há perigo. Renan sobre e fica com ela. Então ele desce, bate a bola nas costas de Índio e SOLTA (putaquepariu Renan!). Borges, em busca de redenção, toca para o gol. Gol do Grêmio. A torcida tricolor, tão dada à religiosidade, volta a acreditar em imortais, em destinos sobrenaturais, na imantação da jaqueta tricolor. Eu, mais prosaico e objetivo, sigo repetindo, indignado, que o goleiro e a zaga do Inter NÃO TEM MAIS QUALQUER POSSIBILIDADE de jogar futebol profissionalmente. O Grêmio ainda perde um gol inacreditável com Bruce Lins. Zé Roberto dribla um defensor e desfere, de fora da área, um chute que o poderia consagrar. Vitor  faz uma defesa estupenda. Vamos para os pênaltis.

Sexta constante universal: para andar de salto alto, tem que ter bala na agulha, do contrário, a bola pode punir. O Inter venceu nos pênaltis e fez a festa. Renan pegou três, Vitor dois. Inter campeão. Jogo de enorme emoção. Os dois times, com suas imensas fragilidades defensivas, facilitaram a vida dos ataques. Se os times não estão bem, pelo menos os jogos são cheios de gol. Concordo com o que o Iuri Muller disse no twitter (ou foi o Maurício Brum, nunca tenho certeza quando é um ou outro!): os dois times precisam se reconstruir. O Inter tem mais material humano com que trabalhar, mas Falcão terá que aprender rápido a ser técnico de futebol. De resto, é sempre bom ganhar do Grêmio. Foi bonita uma final com dois técnicos torcedores, visivelmente emocionados. Ganhar o Gauchão vale quase nada. Pior, só perder. VAMOOO INTEEERRR! CAMPEÃO!!





sábado, 14 de maio de 2011

Montmartre, domingo de sol

O dia de hoje, de sol pálido, e mais alguns eventos coincidentes, me fizeram lembrar de um domigo de abril em 2006, quando moramos um semestre em Paris. Este é um dos textos que enviei aos amigos.

Quando nós morávamos no Rio de Janeiro, eu tentava parecer o menos estrangeiro possível. Só que não adiantava, toda vez em que eu passava pela Baía da Guanabara, olhava o Pão-de-Açúcar e o queixo ia lá no chão... Pois o mesmo aconteceu aqui. Hoje fomos a Montmartre. Não há lugar onde Paris seja mais parecida com a Paris que o mundo inteiro imagina. Ladeiras com escadas, dezenas de cafés e pequenos restaurantes com mesinhas nas calçadas, museus, artistas pintando nas ruas, essas coisas.

Essa imagem é um pouco de história e muito de artifício. Na virada do século XIX para o XX, aquele bairro era o local por excelência da vida boêmia de Paris. Nas ladeiras da “colina”, como é chamado também, havia ateliês de pintores como Renoir e, depois, moraram ali vanguardistas como Picasso. Dançarinas mostravam as coxas no Moulin Rouge e faziam agrados a quem pudesse pagar, enquanto Tolouse-Loutrec desenhava a todos sem piedade, como caricaturas. A gente conhece bem essa história. O lugar era a noite da Paris da Belle Époque.

Paris foi sitiada pelos alemães em 1870. O cerco foi intenso, os parisienses comeram todos os animais que viviam na cidade porque não havia mais nada do que se alimentar. Dois ricos industriais católicos fizeram então uma promessa ao Sagrado Coração de Jesus. Se os alemães levantassem o cerco e não conseguissem invadir a cidade, eles financiariam a construção de uma Igreja monumental no ponto mais alto da Colina de Montmartre. Paris resistiu, os alemães se retiraram, os animais voltaram à cidade (aliás, estão muito a vontade: um pombo até cagou no meu cabelo, mas tudo bem...). Assim, foi construída a Igreja do Sacre-Coeur. Toda branca e que eu acabo associando sempre com um Taj-Mahal parisiense. Talvez uma influência do orientalismo que grassava na Europa na segunda metade do século XIX.

Hoje, os parisienses fazem de um tudo pra reconstruir artificalmente aquela imagem da Paris que os turistas querem ver em Montmartre: algumas casas muito antigas estão bem preservadas, há pintores na rua ou com ateliês abertos, volta e meia alguma cantora imita Piaff com um realejo. Eles fingem que é mesmo aquela Paris que os turistas esperam e as centenas de turistas que inundam as ruas estreitas fingem que acreditam. Mas o diacho é que funciona!

Foi igualzinho ao caso do Rio. Eu sabia de tudo isso, mas não adiantou nadinha. O meu queixo caiu de novo. Aliás, ainda agora está a meio caminho de sua posição normal. Um pouco, não há como negar, foi por ver a imagem da Paris que a gente sempre imagina. Agora, outro tanto, e bem fundo, foi por outros motivos. A gente sai do metrô em um bairro desfavorecido, no XVIIIme, e vai chegando perto da Colina. O dia estava lindo, com sol, o que é raro por aqui. Tinha muita gente sentada nos gramados que costeiam a subida para o Sacre-Coeur. Foi me dando uma calma, uma alegria, uma vontade de fazer que nem aquele povo todo, e só sentar ali no sol, ventinho no rosto, cara de bobo de tão tranqüilo, olhando Paris inteira lá embaixo.

Seguimos subindo. Montmartre tem ruas tortuosas, ladeiras com escadas, casas antigas com amores-perfeitos nas janelas. A Nika ficou linda naquelas ruas, tirei um monte de fotos. Entendi porque os pintores todos moraram ou trabalharam lá. Ah... e entendi também porque o puteiro ficava lá. Imagina só: fazer farra a noite inteira e depois curar a ressaca descendo a colina, vendo o amanhecer com a cidade lá embaixo. Devia ser uma experiência religiosa (quem sabe não veio da lembrança de um momento desses a idéia daqueles senhores em construir a Igreja do Sacre-Coeur?).

O Montmartre que bateu fundo em mim é esse, e também o dos velhinhos sentados conversando calmamente no domingo de sol, com seus infalíveis cachorros pela coleira, o dos homens falando alto e jogando bocha no parque (isso mesmo, aqui eles também jogam bocha, e depois não acreditam quando eu digo que Jaguari dita moda para o mundo inteiro). É o Montmartre dos cafés e dos turistas também, mas acima de tudo é o Montmartre dos recantos afastados da multidão, nas pequenas praças onde a gente senta para ver as crianças brincarem.

Eu havia preparado um outro texto, bem político e social analisando os eventos das manifestações. Foi horrível ir até a École e encontrar lá apenas a polícia. Nesse texto também iam entrar umas reclamações porque nos mudamos para a Maison du Brésil e agora estamos morando numa garagem, e todo mundo insiste em dizer que é uma experiência arquitetônica, que é uma obra-prima da arquitetura moderna. Que viver nesses apartamentos é habitar a arte. Vão fazer experiência arquitetônica na casa da mãe deles. Lugar pra morar tem que ser bom de morar. E tenho dito! Mas de nada disso vou falar mais agora. O texto social mando pra vocês outra hora. E vocês leiam se quiserem. Mas neste aqui, neste exato momento, não consigo falar de mais nada senão das ruas inclinadas de Montmartre, das crianças nas praças e dos telhados de Paris lá embaixo.

Sem dinheiro para sentar nos cafés, mas parar em frente a eles é de graça...



sábado, 7 de maio de 2011

Hacia al sur, en Uruguay

Nesta semana, uma série de coincidências trouxe o Uruguai para o meu pensamento.  Estou providenciando a vinda de duas historiadoras da Universidad de la República para ministrar cursos aqui na UFSM; tivemos o esquecível maracanazo aplicado pelo Peñarol no glorioso Internacional (eles que esperem, retribuiremos); e fiquei hospedado na casa do Milton Ribeiro, em cujo blog foi publicada uma primeira versão do texto abaixo, que descreve minhas impressões sobre minha única viagem a Montevideo. É um horror que não tenha ido mais vezes. Para mim, é claro, pois o Uruguai passa muito bem sem mim. 

Torres-García


Montevidéu me pareceu, mesmo, a própria slow life. Terei lido em algum lugar que Hemingway dissera que a Espanha era o último lugar civilizado do mundo? Pois agora é Montevidéu.
Eu, a Nika e meu compadre José Iran fomos até lá de carro, em dezembro de 2007. Passamos por léguas e léguas de campo vazias, e pela estupidez dos mares de eucalipto e pinus da Botnia.
Comemos um filé com chimichurri inacreditável no trevo de Tacuarembó, a cidade das lambretas.
Depois de 2 horas sem cruzar com um único carro, chegamos a um posto de pedágio. A funcionária parou de ler e nos atendeu. Provavelmente foi ilusão de ótica, mas ela pareceu ter se surpreendido.
Emprego perfeito para uma escritora, comentei com a Nika.
Fiquei encantado passando ao largo de Durazno. Olhei para as ruas com árvores altas, casas antiquíssimas dando direto na rua e as pessoas colocando cadeiras para sentar na calçada ao entardecer. Parecia minha pequena cidade de infância. É por isso que o Uruguai não vai para a frente. Ele é feito para a memória.
Em Montevidéu, todos andam com garrafas térmicas e as pequenas cuias de mate debaixo do braço. Eu disse TODOS: os velhos, os homens de terno e gravata, as colegiais adolescentes.
Saí do prédio da Universidade, onde estava em um congresso. Entrei na primeira livraria que vi aberta. Encontrei um livro clássico de um grande historiador uruguaio dos anos 80. O rapaz da livraria aproximou-se e disse: “Gosta do Livro? Quer conhecer o autor?”. E me levou até um canto iluminado, onde um velhinho estava sentado, lendo.

Apontou para o velho: este é o grande historiador. Foi corrigido imediatamente: “já fui… agora apenas assombro livrarias”. Conversamos por mais de uma hora.
Fui ao museu do Torres-García e não comprei uma gravura. Sou uma besta. É fato.
Fiquei olhano o Rio da Prata, com a minha mulher. Por horas.

Além de tudo, o bisavô dela era uruguaio. Migrou para o interior de uma cidade da Campanha Gaúcha.
Lá, era tido por louco, pois tinha modos estranhíssimos: lia e escovava os dentes. Todos os dias.
Quando começou a dizer que os americanos e russos estavam construindo aeronaves para ir à lua, o povo deu o caso por perdido. Era só esperar o velho arrancar as roupas e começar a jogar pedras nas pessoas.

quarta-feira, 4 de maio de 2011

O Solar da Gaurama

De volta à SM depois de rápida estada Porto Alegre e São Leopoldo. Tivemos ótima recepção no Solar da Gaurama. O Milton passou horas entre delicados alicates e montagem de mesa e cama, a fazer reparos na edícula (para detalhes, ver http://miltonribeiro.opsblog.org/2011/05/01/preparacao-para-a-recepcao-ao-casal-witter-farinatti/)

Por favor, notem a instrutiva cortina que nos esperava no banheiro:



A Cláudia preparou uma mesa de colorido mediterrânico.



Ali, nos sentamos com eles e a Bárbara das 19:00 às 24:00, aproximadamente.



Depois de cinco anos, finalmente voltei a comer um pão de verdade.
Tudo isso depois de afirmarem que não daríamos trabalho algum... Fiz uma amizade verdadeira com a Juno, depois de algumas hesitações de minha parte, embora, após dois minutos, ela já ficasse nas patas traseiras para me lamber o rosto.



Eles são tão legais que até pensei em me mudar definitivamente. Pena que fica um pouco longe do meu serviço...


quinta-feira, 28 de abril de 2011

Hopper e Degas

Eu sou assombrado pelo Hopper.


Aquelas solidões. Aqueles vazios. O indivíduo e todo o espaço. Para dentro e para fora dele mesmo.


Aqueles olhares que nunca se encontram. Todos estão sós, juntos. 



Acontece que um dia eu descobri, em uma parede, um quadro do Degas que tinha o Hopper todo nele. Foi daquela matéria que o Hopper puxou, puxou, esticou, arrumou, botou uns silêncios e criou sua própria obra.  Como diria o Manoel de Barros, o Hopper tem que dar federação ao Degas. Nessas solidões, o Degas exerce PRIMAZIA.
Além de tudo, a Bebedora de Absinto tem umas cores, e uns tons, que são os que vejo pela minha janela, neste fim de tarde de outono. Eu estou com ela.