A maioria de nós tem ídolos. Os jovens, especialmente, parecem buscá-los com fúria e fome. E cultivá-los, às vezes transformando-os em emblema e expressão de sua forma de estar no mundo.
Quando eu era adolescente, meus amigos enchiam as paredes de seus quartos com fotos e poemas e quadros do Pink Floyd, Led Zeppelin, Che, García Lorca, Neruda, John Lenon, Bob Marley, U2, Mandela.
Eu gostava de alguns desses. E de outros que não estão nesta lista. Mas me mantinha vigilante contra todo tipo de idolatria. Um pouco por soberba, afinal, aos 16 anos, eu era pura pretensão. Mas muito por uma atitude cínica que me indicava que ninguém merecia tamanha adesão, que eu iria quebrar a cara quando descobrisse que meus heróis eram humanos, cheios de falhas, de vexames.
Essa mesma atitude, porém, me preparou para receber os filmes dos Pythons com um impacto inesperado. O non-sense, o humor absurdo, a crítica mais do que inteligente, genial. Foi assim que, para louvor ao deus dos paradoxos, me tornei um fã. E eles, que tanto repetiram “vocês têm que pensar pelas próprias cabeças”, se tornaram ídolos. A vida é mesmo engraçada.
Um amigo meu ganhou uma filmadora VHS. Uma coisa espantosa. Enorme. Formamos um grupo e fizemos duas sub-produções mimetizando (e muito mal, é claro) o humor dos Pythons, igualzinho aos outros guris que construíam bandas de garagem, imitando seus heróis. Assisti arrepiado, felicíssimo e meio enlouquecido ao primeiro documentário em que os via em vida civil, falando mal uns dos outros, lembrando ora divertidos, ora melancólicos, ora furiosos dos tempos em que pertenciam ao grupo.
Eles satirizaram com muita inteligência o absurdo presente em tudo: no mito fundador da pátria inglesa (Em busca do Cálice Sagrado), na religião (A vida de Brian) e na própria existência (O sentido da vida). Fiéis a si mesmos, nem o funeral de seu grande integrante, Graham Chapmam, em 1989, escapou.
Eu decorei as falas dos filmes, e até hoje reajo a situações cotidianas com algumas delas, sobretudo as de “A vida de Brian”: “é... mas isso não é culpa de ninguém, nem dos romanos”, “fizeram tudo isso e o que foi que eles nos deram em troca? – Um Aqueduto... – Cala Boca!”, “isso, vá... seja crucificado, não pensa na sua pobre mãe...”
Pois agora, o Igor Natusch compartilha uma notícia veiculada neste blog, dando conta da possibilidade dos ingleses se reunirem de novo, ainda que sem Chapmam, naturalmente. E eu, imediatamente, abro outra tela e começo a escrever esse texto. Espero que isso se confirme.
Viva os Pythons, com sua genialidade e seus defeitos. Afinal, o que nos resta ante ao caos e a falta de sentido, senão rir e olhar sempre para o lado brilhante da vida?