sábado, 28 de janeiro de 2012

Monty Python, o sonho não acabou

A maioria de nós tem ídolos. Os jovens, especialmente, parecem buscá-los com fúria e fome. E cultivá-los, às vezes transformando-os em emblema e expressão de sua forma de estar no mundo.

Quando eu era adolescente, meus amigos enchiam as paredes de seus quartos com fotos e poemas e quadros do Pink Floyd, Led Zeppelin, Che, García Lorca, Neruda, John Lenon, Bob Marley, U2, Mandela.

Eu gostava de alguns desses. E de outros que não estão nesta lista. Mas me mantinha vigilante contra todo tipo de idolatria. Um pouco por soberba, afinal, aos 16 anos, eu era pura pretensão. Mas muito por uma atitude cínica que me indicava que ninguém merecia tamanha adesão, que eu iria quebrar a cara quando descobrisse que meus heróis eram humanos, cheios de falhas, de vexames.

Essa mesma atitude, porém, me preparou para receber os filmes dos Pythons com um impacto inesperado. O non-sense, o humor absurdo, a crítica mais do que inteligente, genial. Foi assim que, para louvor ao deus dos paradoxos, me tornei um fã. E eles, que tanto repetiram “vocês têm que pensar pelas próprias cabeças”, se tornaram ídolos. A vida é mesmo engraçada.



Um amigo meu ganhou uma filmadora VHS. Uma coisa espantosa. Enorme. Formamos um grupo e fizemos duas sub-produções mimetizando (e muito mal, é claro) o humor dos Pythons, igualzinho aos outros guris que construíam bandas de garagem, imitando seus heróis. Assisti arrepiado, felicíssimo e meio enlouquecido ao primeiro documentário em que os via em vida civil, falando mal uns dos outros, lembrando ora divertidos, ora melancólicos, ora furiosos dos tempos em que pertenciam ao grupo.

Eles satirizaram com muita inteligência o absurdo presente em tudo: no mito fundador da pátria inglesa (Em busca do Cálice Sagrado), na religião (A vida de Brian) e na própria existência (O sentido da vida). Fiéis a si mesmos, nem o funeral de seu grande integrante, Graham Chapmam, em 1989, escapou.



Eu decorei as falas dos filmes, e até hoje reajo a situações cotidianas com algumas delas, sobretudo as de “A vida de Brian”: “é... mas isso não é culpa de ninguém, nem dos romanos”, “fizeram tudo isso e o que foi que eles nos deram em troca? – Um Aqueduto... – Cala Boca!”, “isso, vá... seja crucificado, não pensa na sua pobre mãe...”

Pois agora, o Igor Natusch compartilha uma notícia veiculada neste blog,  dando conta da possibilidade dos ingleses se reunirem de novo, ainda que sem Chapmam, naturalmente. E eu, imediatamente, abro outra tela e começo a escrever esse texto. Espero que isso se confirme.

Viva os Pythons, com sua genialidade e seus defeitos.  Afinal, o que nos resta ante ao caos e a falta de sentido, senão rir e olhar sempre para o lado brilhante da vida?

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Inter 1x0 Once Caldas - Sobre Heróis e Tumbas






A verdade é que tudo podia acontecer depois da nuvem negra de tormentos que se estabeleceu no Beira-Rio com a saída iminente de D'Alessandro, seduzido por uma montanha de dinheiro oferecido por um clube da China (esses capitalistas nojentos). Nestas semanas, assistimos aos arautos da desgraça encheram blogs e microfones vaticinando o fracasso na Libertadores, antes mesmo dela ter começado e fazendo o balanço com perda total do ano futebolístico ainda em janeiro.

 Porém, o Inter jogou um grande primeiro tempo. D'Alessandro foi impecável. Deu um passe de sinuca para o gol, me fazendo pensar que se deveria ceder à chantagem do gringo e entregar-lhe os direitos federativos de Damião e Oscar, mais um pedaço do Beira-Rio (que ainda não cederam à construtora), para que ficasse. Damião segue passando o jogo inteiro com a mão nas costas e a cara feia, mas pelo menos voltou a se atirar como um louco na bola. E a marcar gols. 


No segundo tempo, o time desandou. A maioria dos comentaristas colocou a culpa no pouco tempo de preparação física. Não há dúvida que os esbagaçamento evidente do time colaborou para a queda de rendimento. Mas é tapar o sol com a peneira não perceber que Pompilio Paez, o técnico com nome de presidente, re-organizou seu time para um 3-4-3 ainda no primeiro tempo e foi encaixando a marcação e amarrou o Inter na etapa final. O que me assusta é que me pareceu que Dorival Junior também não percebeu o fato.

Para grande espanto de todos, a zaga teve atuação segura durante todo o jogo. Guiñazú “El perro loco” corria como se fosse meio de temporada e ele tivesse 18 anos. Bolatti é titular e ponto final. O minúsculo Marcos Aurélio entrou muito mal, mas é bom jogador e há de se recuperar.

No final do jogo, ficou a quase-certeza da saída de D’Alessandro. Se ficar, será por uma salário que vai dificultar a “administração do grupo” (eufemismo para “ganância desmedida e absoluta dos jogadores de futebol por um punhado de dólares”). Ouvi o gringo dizer que a torcida do Inter tem que saber que ele se doou 100% em todas as partidas. Bobagem, já que isso não passa da obrigação de quem ganha centenas de milhares de reais, e acha pouco. Eu cheguei a pensar que era burrice o D’Ale abandonar a chance de ir à Copa e toda a idolatria que tem no Inter para ir esconder-se atrás de uma muralha de dinheiro chinês. Mas então pensei que ele pode ter considerado essa hipótese sim. E aí pensou que já está com 31 anos. E, logo, não terá mais a energia que lhe propulsiona o talento. E seu rendimento decairá. Com ele, também a idolatria. Será cobrado, aguentará a frustração da torcida, perderá o estrelato. Não seria então melhor sair no auge e ir saquear os portos chineses? D’Alessandro não é bobo. Nunca foi.

Se tudo for para o rumo que parece mesmo ir, haverá necessidade de muito trabalho e talento no Beira-Rio. Não que D’Alessandro seja genial, nem que não haja outros bons jogadores no colorado. Mas o modo como o Inter se organiza, como encaminha o andamento do jogo, é muito difícil de manter sem ele. O gringo é a peça-chave da forma de jogar que o time aprendeu nos últimos três anos. Posse de bola, Kleber, Dale, Guiñazú, Dale, Oscar, Dale, Damião, gol!

Não é o fim do mundo, como disseram os exagerados. Mas o Inter terá que se reinventar.

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

A agressão aos moradores do Pinheirinho: algumas perplexidades

Sou um sujeito lento. Não consigo acompanhar tudo que se tem produzido na mídia, especialmente a eletrônica, sobre tudo quanto acontece a todo tempo no mundo inteiro. Tanta informação é coisa de enlouquecer. Muito já foi dito, instantaneamente, sobre a violência sofrida pelos moradores do Pinheirinho, em São José dos Campos (SP). Entre tantas, recomento este editorial do Sul21. O que registro aqui são apenas algumas de minhas perplexidades com o caso.


http://maierovitch.blog.terra.com.br/2012/01/23/pinheirinho-e-o-uso-precipitado-da-forca-publica/

Eram milhares de mulheres, homens, velhos quebrados de uma vida de serviço, trabalhadores, migrantes fugidos da seca e da fome no nordeste, pobres, crianças de colo, crianças. Crianças. Crianças. Crianças. Ocupavam ilegalmente uma área que pertencia à massa falida de um especulador criminoso. Foram expulsos de suas casas pela polícia, por ordem da justiça. Velhos. Crianças. Famílias. Crianças. 

Crianças.

Crianças.

Crianças.

Uma solução política poderia ter sido feita. Deveria ter sido. Os políticos são pagos pelo dinheiro de quem paga impostos. Estes são gerados pelo trabalho daquela gente. A polícia também. E o juízes. Uma solução política. Sim, sim, já se tentava há muito tempo. Era preciso tentar mais. É para isso que se paga políticos. E a formação de juízes e delegados. É para isso que se paga cursos de Direito.

As cidades brasileiras estão se transformando em monstros inviáveis. Impensáveis. Em quimeras urbanas. Mas não há o que se fazer senão lutar contra o monstro. 

Famílias inteiras, suas casas derrubadas. Anos de trabalho. Juntar salário, comprar material, fazer a casa. Morar lá, com a sua família.

As versões da mídia televisiva foram, em maioria, fantasiosas. Narraram o que não houve. Omitiram. Misturaram. Estudaram como fazer para melhor confundir.

Que direito de propriedade é esse que promove tanta barbárie? Que arranca a casa de velhos, de crianças? 

Crianças.

A ação tinha base legal. É verdade. Quando se destrói a casa de moradia de milhares de famílias pobres para defender o direito absoluto de propriedade de um especulador, não são os ocupantes que estão errados. É a lei. 

E o sistema que gera a lei.



sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Larry e Maria

Certa vez, um amigo disse que não entendia como eu podia gostar desse filme. É que eu sou bobo, respondi. Eu gosto da música, gosto da história, sei alguns diálogos de cor (e os utilizo no dia a dia!), gosto demais da Maria e do Larry. Eles estão no meu primeiro círculo de afetos.

E esta cena é belíssima.