quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Inter 1x0 Once Caldas - Sobre Heróis e Tumbas






A verdade é que tudo podia acontecer depois da nuvem negra de tormentos que se estabeleceu no Beira-Rio com a saída iminente de D'Alessandro, seduzido por uma montanha de dinheiro oferecido por um clube da China (esses capitalistas nojentos). Nestas semanas, assistimos aos arautos da desgraça encheram blogs e microfones vaticinando o fracasso na Libertadores, antes mesmo dela ter começado e fazendo o balanço com perda total do ano futebolístico ainda em janeiro.

 Porém, o Inter jogou um grande primeiro tempo. D'Alessandro foi impecável. Deu um passe de sinuca para o gol, me fazendo pensar que se deveria ceder à chantagem do gringo e entregar-lhe os direitos federativos de Damião e Oscar, mais um pedaço do Beira-Rio (que ainda não cederam à construtora), para que ficasse. Damião segue passando o jogo inteiro com a mão nas costas e a cara feia, mas pelo menos voltou a se atirar como um louco na bola. E a marcar gols. 


No segundo tempo, o time desandou. A maioria dos comentaristas colocou a culpa no pouco tempo de preparação física. Não há dúvida que os esbagaçamento evidente do time colaborou para a queda de rendimento. Mas é tapar o sol com a peneira não perceber que Pompilio Paez, o técnico com nome de presidente, re-organizou seu time para um 3-4-3 ainda no primeiro tempo e foi encaixando a marcação e amarrou o Inter na etapa final. O que me assusta é que me pareceu que Dorival Junior também não percebeu o fato.

Para grande espanto de todos, a zaga teve atuação segura durante todo o jogo. Guiñazú “El perro loco” corria como se fosse meio de temporada e ele tivesse 18 anos. Bolatti é titular e ponto final. O minúsculo Marcos Aurélio entrou muito mal, mas é bom jogador e há de se recuperar.

No final do jogo, ficou a quase-certeza da saída de D’Alessandro. Se ficar, será por uma salário que vai dificultar a “administração do grupo” (eufemismo para “ganância desmedida e absoluta dos jogadores de futebol por um punhado de dólares”). Ouvi o gringo dizer que a torcida do Inter tem que saber que ele se doou 100% em todas as partidas. Bobagem, já que isso não passa da obrigação de quem ganha centenas de milhares de reais, e acha pouco. Eu cheguei a pensar que era burrice o D’Ale abandonar a chance de ir à Copa e toda a idolatria que tem no Inter para ir esconder-se atrás de uma muralha de dinheiro chinês. Mas então pensei que ele pode ter considerado essa hipótese sim. E aí pensou que já está com 31 anos. E, logo, não terá mais a energia que lhe propulsiona o talento. E seu rendimento decairá. Com ele, também a idolatria. Será cobrado, aguentará a frustração da torcida, perderá o estrelato. Não seria então melhor sair no auge e ir saquear os portos chineses? D’Alessandro não é bobo. Nunca foi.

Se tudo for para o rumo que parece mesmo ir, haverá necessidade de muito trabalho e talento no Beira-Rio. Não que D’Alessandro seja genial, nem que não haja outros bons jogadores no colorado. Mas o modo como o Inter se organiza, como encaminha o andamento do jogo, é muito difícil de manter sem ele. O gringo é a peça-chave da forma de jogar que o time aprendeu nos últimos três anos. Posse de bola, Kleber, Dale, Guiñazú, Dale, Oscar, Dale, Damião, gol!

Não é o fim do mundo, como disseram os exagerados. Mas o Inter terá que se reinventar.

6 comentários:

  1. Gastar o glorioso Sábato, argentino de marca maior, para comentar esse escore e esse poneizinho... Ainda fosse o heróico 14 de Julho que anda à beira da tumba, vá lá!

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    1. Não é o escore, é o ano. E o Matador-de-Imortais deixará saudades dignas de serem tematizadas por Sábato.

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  2. Pois é. Não é corneta de gremista, até porque não estamos com moral para isso, mas ou eu sou um péssimo observador enquanto estou secando, ou as jogadas ofensivas do Inter tem se resumido a lançar o Damião no limite da linha de impedimento (aquele gol de ontem me pareceu um exaustivo replay). Outra observação, que é um mistério e também uma pergunta: o que acontece com o Inter no vestiário durante o intervalo? É quase sempre um time morto que volta para o segundo tempo. Será que contratam dançarinas? Lorota pura dos comentaristas que é início de temporada e falta fôlego, pois isso ocorreu durante vários jogos durante o ano passado. E quando há do outro lado um time mais liso, como Peñarol, o caldo costuma entornar.

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    1. Eu acho que essa do repertório de jogadas é uma percepção distorcida pela secação sim. Devemos ter mais uma ou duas. Mas a coisa do segundo tempo é mesmo alarmante.

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  3. Não foi. Aparentemente tinha mais dinheiro (ou torcedores, o que é ainda mais difícil de acreditar) do lado de cá da muralha...

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    1. como eu disse no facebook: "Todos querem saber quanto ganhou D'Alessandro: essa é fácil: até agora, uma Libertadores, uma Sul-Americana, uma Recopa e dois Gauchões." Ou seja, o cara se paga.

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