terça-feira, 29 de novembro de 2011

Menino de alma leve, voando sobre o pelego

Meu avô contava histórias. Tomando mate, na varanda em frente à casa, nas viagens para “o campo” ou enquanto assava os churrascos de domingo. Histórias de seu pai alemão e de sua mãe cabocla. De seus irmãos sem fim. De tropeadas, de amores proibidos, de guerras tenebrosas. 

Havia uma narrativa que nunca faltava. Uma epopeia no fim do mundo. Uma migração para o oeste do Paraná, em 1952. Dois meses de viagem. A floresta, onças famintas, cobras que devoravam homens inteiros. Caminhar por dois dias sem dormir, no meio do mato, para buscar um naco de carne para minha avó grávida. Depois, o fracasso da empreitada e o retorno. Ouvi essa história mil vezes, mas nunca como queixa. Sempre como aventura.

Quando menino, passava as férias na casa deles. Já adulto, gostava de ir lá tomar mate e ouvir sempre as mesmas histórias. Porque nós é que mudávamos. Então as histórias também não eram exatamente iguais.

Nas duas vezes em que a minha mãe teve filhos, passou os primeiros dias na casa do meu avô. Eu, depois meu irmão, dormíamos em um bercinho ao lado da sua cama. Quando chorávamos, era ele quem acordava e nos levava até o quarto dos meus pais, para que minha mãe, meio dormindo, nos desse de mamar.

Ele me ensinou a fazer xixi nas flores dos jardins, a dizer barbaridades para os adultos, a levar os ratos que pegava na ratoeira, pelo rabinho, e jogar nas mulheres da casa. Nunca mais me diverti tanto.

Meu avô me ensinou a montar a cavalo e a dirigir. Faço os dois mal. O primeiro por minha culpa exclusiva. Ele era um ginete. O segundo, porque o professor também não ajudava nada.

Ele amava o campo, e andar a cavalo, e camperear. Eu não era de campo. Meu irmão sim, foi o filho ue ele nunca teve. Meu avô dizia que não havia sujeito mais feliz que ele, porque amava o que fazia. De tanto ouvir isso, larguei o Direito e fui fazer História.

Pensávamos muito diferente sobre a maioria das coisas. Ele era conservador, resistia a novidades, era cabeça-dura. Mas era amoroso como ninguém. Acarinhava os netos e as filhas. Quando chegava do campo, no fim do dia, dava um jeito de dar uns amassos na minha avó, quase derrubando-a por cima da pia ou atrás das portas.

Quando o Miguel veio para casa, ele, já nonagenário, percorreu mais de 100 quilômetros para ser um dos primeiros a embalar o pequeno.



Dele herdei a boca, as feições, a forma do tórax e o costume de dormir sentado. Queria ter aprendido seu otimismo, sua gana de não se entregar nunca, sua juventude eterna. Mas a vida não é exatamente como a gente quer.

O Vô Juvenal morreu ontem, aos 92 anos. E eu sinto que acabou uma era, na minha vida.

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Cidades invisíveis, mundos infinitos - pensando sobre Calvino, Pólo e o Kahn

Este post do Milton Ribeiro, bem como os comentários ali realizados, me fizeram voltar a Calvino e Borges. 

Amo “As cidades invisíveis”, de Calvino. É uma das minhas 10 obras preferidas (que, na realidade, devem somar mais de 50, entre elas Ficções, do Borges). Parte do texto abaixo, é transcrição do meu comentário lá no post.

Uma das coisas que mais gosto no livro de Calvino é o fato de que Kublai Kahn conquistou/herdou o maior de todos os impérios, mas está condenado a jamais conhecer muitos de seus territórios. Ele é um imperador incompleto. Quem olhar para ele, poderá ver vazios pungentes aqui e ali em seu corpo imperial. O Império é grande demais para os limites dos deslocamentos a cavalo, em camelo, nos barcos a vela e remo. O Império é grande demais para uma única vida. Assim, para conhecer o seu próprio Império e, de alguma forma, conhecer a si mesmo, o Imperador precisa dos outros, das narrativas que lhes fazem.

Então, ele faz uso de emissários, encarregados de viajar pelos confins e dar-lhes a conhecer através de seus relatos. Dentre eles, Marco Pólo é o mais amado, não porque viaje mais rápido ou percorra maiores distâncias, mas por sua arte de narrar. É através da palavra de Pólo que se presentificam as cidades para Kublai Kahn. Através, portanto, de um jogo inter-subjetivo que articula três pontas: o próprio Imperador, o narrador-viajante e as cidades, que nunca se saberá se existem mesmo ou se têm aquela forma. Mas não importa, porque a narrativa é o modo delas existirem para a experiência do grande Kahn. Pólo é o mago que restitui a inteireza ao imperador despedaçado.

Mas ninguém se engane com essa minha conversa sobre limites e inteireza. Outra característica do império do Kahn, e também das narrativas de Pólo, é que não se pode demarcar com certeza as suas fronteiras. Nas suas fronteiras não há muralhas. Há sim imensos espaços vazios, outros que são estradas, rios, oásis onde se misturam povos vizinhos e os habitantes do Império. Por ali vão e vêm o vento, os mercadores, os fugitivos, os viajantes.

O fato de ser impossível conhecê-lo de todo facilita-lhe a qualidade de infinito, de algo que pode ser continuamente reconstruído.

(ao que parece, a imagem que usei é o Mapa Mundi, de Fra Mauro, do século XV, talvez inspirado nas narrativas de Pólo. Busquei neste site aqui)

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Oito motivos para ser amigo do Milton e da Cláudia


Claro, há muitos outros motivos, mas estes são alguns:

1- São receptivos, divertidos e inteligentes. Além disso, a Cláudia é bonita e o Milton é simpático!




2- Um dia, se tiver muita sorte, você poderá ser recebido na Edícula Real, no Solar da Gaurama, com sua sugestiva cortina de banheiro.


3- Você pode queimar o forno de micro-ondas deles e nada te acontece!


4- A Juno não pega.



5- A cozinha mágica da Cláudia


6- O Milton acredita nas minhas mentiras.


7- Eles têm amigos fascinantes, que podem virar seus amigos também!


8- Na casa deles, quando menos esperar, você pode ser surpreendido pela verdadeira BELEZA.