quinta-feira, 11 de agosto de 2011

No Coração do Império




Quando penso nas convulsões na Inglaterra, é inevitável lembrar dos pensamentos do personagem de “O Coração das Trevas”, enquanto descia o rio, partindo do coração do Império, cuja luz a todos cegava, para o mundo da “escuridão”. Há muitos universos nessas palavras:

E nada é realmente mais fácil para um homem que tem, como diz o ditado, ‘seguido o mar’, com reverência e afeição, do que evocar o grande espírito do passado nos trechos mais baixos do Tâmisa. O fluxo da maré corre para cá e para lá num trabalho incessante, repleto de memórias de homens e navios que conduziu ao lar e a batalhas no mar. Conheceu e serviu a todos os homens de quem a nação se orgulha, de Sir Francis Drake a Sir John Franklin, todos fidalgos – com ou sem títulos – os grandes cavaleiros andantes do mar. Deu origem a todos os navios cujos nomes são como jóias brilhando na noite do tempo, desde Golden Hind, voltando com seus largos costados cheios de tesouros, para ser visitado por Sua Alteza, a Rainha, e desaparecer, depois, nos desvãos da História, até o Erebus e o Terror, destinados a outras conquistas, e que jamais retornaram. Conheceu os navios e os homens. Partiram de Deptford, de Greenwich, de Erith – os aventureiros e os colonos; navios de reis e navios de homens de negócios; capitães, almirantes, os tenebrosos ‘atravessadores’ do comércio com o Oriente, e os ‘generais’ comissionados das frotas das Índias Orientais. Em busca de ouro ou fama, todos partiram por aquele rio, segurando a espada, e frequentemente a tocha, mensageiros dos poderosos, levando uma centelha do fogo sagrado. Que grandezas não navegaram suas correntezas até o mistério de uma terra desconhecida!... Os sonhos dos homens, semente de nações, germe de Impérios.”

O Coração das Trevas
De Joseph Conrad. Tradução de Albino Poli Jr.

2 comentários:

  1. Adoro Conrad! Coração das Trevas é uma realização sobre-humana, como o são quase todos os livros dele. Como vc é historiador, talvez conheça o ótimo ensaio em Reflexões sobre o Exílio escrito por Edward Said. Vale muito a pena ler.

    Vejo esses acontecimentos na Inglaterra como apenas o começo das ações que nos levarão a todos para os perigosos tempos interessante nesse novo século. Não percebe que a humanidade está enfrentado um novo limite de saturação? A explosão está próxima, embora não esteja de todo confortável em achar que se vá obter os benefícios requeridos pelas Questões Sociais.

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  2. Estava esperando teu comentário, Charlles. Por algum motivo, achei que você gostasse mesmo de Conrad. Bela definição: este livro é uma realização sobre-humana.

    Baita indicação a do Said. Ainda não li, mas lerei.

    Sobre esse período de saturação, ou decadência, como já te vi comentando em um post da Caminhante, teria muito para conversar. Farei isso em algum momento, agora não porque estou bem cansado e sem ânimo para a seriedade que o assunto requer (como verás por meu próximo post, hoje estou para o deboche).
    Valeu!

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