sábado, 17 de dezembro de 2011

17 de Dezembro - Colorado das Glórias



Na tarde de 16 de dezembro de 2006 eu caminhava com a minha mulher pelas ruas do Menino Deus. Ela não tem nenhum interesse por futebol, embora seja colorada por tradição familiar e por não gostar do Paulo Santana, desde pequenininha. 

Era meu terceiro ano em Porto Alegre e assisti a quase todos os jogos do Inter no Beira-Rio, nesse espaço de tempo. O ano "Joel" em 2004. O campeonato que nos roubaram em 2005. Quase, quase. A grande Libertadores de 2006. Comentei então com a Nika, que aquela tarde deveria ser o momento mais lindo e nervoso e terrível e maravilhoso da minha vida de torcedor. No outro dia, bem cedinho, o Inter jogaria a final do Mundial de Clubes da FIFA. Nada menos do que isso.

No entanto, eu me sentia estranhamente anestesiado. Nem expectativa, nem aflição, nem gastura no estômago. O motivo: o adversário era o Barcelona. Por que justo na nossa vez? Podia ser outro time com menos credenciais! E os caras haviam triturado os mexicanos dois dias antes, como para não deixar dúvidas. Eu tentava me conformar com a ideia de uma derrota por escore baixo.

Por uma dessas estranhas simetrias, eu estava morando em Paris quando da final da Liga dos Campeões da Europa. Fui aos arredores do Stade de France no dia da final entre Barcelona e Arsenal, com meu amigo Bernardo Buarque, que estudava torcidas de futebol no doutorado (tem gente que saber viver, né?!). Vimos cenas inacreditáveis, como um torcedor do Arsenal que tentou pular a cerca, composta por algo como lanças de ferro, e ficou espetado por uma das setas. 

A noite do dia 16 foi tranquila, vi um filme e fui dormir como se nada de especial fosse acontecer no outro dia. Às 5 da manhã, o foguetório me acordou. E meu coração começou a bater no ritmo dos rojões. As horas até o início da partida foram intermináveis. Depois, quando tudo começou, cada passe do Barcelona era um tormento. O Inter ficava na defesa e conseguia conter as investidas do Barça, que dominava do jogo, mas não tinha contundência.

No intervalo, a Nika acordou e me perguntou: quanto tá? 0x0 disse, já com uma cara de louco que não conseguia mais trair para ninguém nem para mim mesmo a esperança desmedida de que a coisa poderia acontecer de que um golzinho complicava tudo de que futebol é uma caixinha de surpresas de que nada nada nada neste mundo é impossível e tantas loucuras mais quanto meu coração conseguia pensar e o jogo passando e o Fernandão machucado que merda agora é que não vamos ganhar isso nunca o Índio sangrando volta volta Índio estamos com um a menos e o Fernandão (emblema, ícone, herói) vai ter que sair mesmo mas quem é que tem estrela e talento e calma para fazer o tal gol do tesouro agora ningúem pode ter e está em campo o Gabirú mas era só o que me faltava...

...Índio - bico para a frente - Adriano Gabiru de cabeça no meio campo - Luiz Adriano de cabeça e corre na direita - Iarlei domina Iarlei acossado por dois catalães - Iarlei pra cima deles - Iarlei deixa Pujol tropeçando nas próprias pernas - Luiz Adriano pede na direita - Iarlei para Gabiru na esquerda na entrada da área - Gabiru e Valdés - a bola passando a linha - a bola batendo na rede - Inter Inter Inter...



Minutos finais mais loucos Nikelen que não gosta de futebol chorando de feliz e de nervosa dizendo é por isso que não gosto de assitir essa coisa eu caminhando de um lado para outro ajudando o Iarlei a segurar aquela bola na bandeirinha do escanteio falta que o Ronaldinho vai bater é quase pênalti minha nossa chuta passa a dois centímetros da trave... olha o contra-ataque Ronaldinho para Iniesta dentro da área CLEMER se acabou se acabou acaba juiz desgraçado vai acabar ACABOU... O INTER É CAMPEÃO DO MUNDO... 

E não lembro nada do que aconteceu nas duas semanas seguintes.

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