sábado, 6 de agosto de 2011

Dia de Festa

Acontece que eu moro em uma rua calma, coberta de paralelepípedos, onde os únicos edifícios são o meu e o que fica logo em frente. Em todo o restante da longa ladeira que ela forma, há casas antigas, a maioria delas habitadas por casais de idosos, descendentes de italianos. Coisa típica deste bairro. Escuto galos cantarem às 5 da manhã, há latido de cães a noite inteira e um vizinho estúpido queima lixo no quintal. Lembra minha infância em Jaguari. Nos domingos pela manhã, meus vizinhos sobem a rampa bem cedo para ir à missa. Eles conversam entre si e nos olham como forasteiros. Morando aqui há quatro anos, já identifico muitos deles. Lembro que, no verão passado, fazia um calor desumano, quando se aproximou uma tempestade. Eu feliz da vida, porque iria chover e aliviar aquele calor danado. Então, vi um deles envergar um cartão com a imagem de uma santa e fazer movimentos com os braços em direção ao temporal, murmurando uma oração ou encantamento ou feitiço. E não é que as nuvens passaram reto e não choveu! Filho da mãe!

Nesta rua, há uma casa cor-de-rosa com as janelas vermelhas, onde mora um casal bem velhinho. Volta e meia chegam três, cinco, sete carros. Desce gente de todas as idades, muitas delas com bebidas e pratos nas mãos, e se vão aos fundos da casa. E há música e dança até a madrugada. No Natal, no Ano Novo, até no carnaval. Porém, no ano passado, por mais de uma vez acompanhei uma ambulância chegar até a casa. Depois de um tempo, vi que o ancião que morava ali começara a sair em uma cadeira de rodas, para tomar sol. Fazia meses que não o via. Hoje, notei que a frente da casa estava ornamentada com balões coloridos. Então, vi o velhinho apoiado em duas bengalas, muito frágil, comandando os lugares para onde iriam as bebidas que iam chegando.

Não consigo descrever a minha alegria.


8 comentários:

  1. Imagine a visão deles sobre você...

    Belo texto (e bela foto)!

    ResponderExcluir
  2. Obrigado Luisa!

    Charlles: eu gosto muito de pensar nisso: imagine quantas bases para histórias tenho do tempo que morei na Nossa Senhora de Copacabana, o paraíso das "Janelas Indiscretas". Logo, elas virão para o blog.
    A foto do post foi tirada pela Nikelen.
    Abraço!

    ResponderExcluir
  3. Manda esse cara que espanta chuva pra cá, por favor!

    ResponderExcluir
  4. Uma das coisas que menos admiro na minha geração é a pouca relação com os vizinhos, nós nem ao menos os notamos.

    Belo texto.

    ResponderExcluir
  5. Pois é, João.

    Acho que isso já vem da minha geração, talvez em menor grau.

    ResponderExcluir
  6. Hehehe Vitor

    Eu mando, mas depois não pode devoler, hein. Se o cara espanta chuva, de que outros assombros não será capaz?

    ResponderExcluir
  7. Sabe, cara. Olhando a foto e relendo o texto eu reacendi memórias lá da boca do monte. Morei naquelas bandas das Dores também. É o lugar mais maravilhoso da cidade, mais com cara de interior mesmo.

    ResponderExcluir