Nesta semana, uma série de coincidências trouxe o Uruguai para o meu pensamento. Estou providenciando a vinda de duas historiadoras da Universidad de la República para ministrar cursos aqui na UFSM; tivemos o esquecível maracanazo aplicado pelo Peñarol no glorioso Internacional (eles que esperem, retribuiremos); e fiquei hospedado na casa do Milton Ribeiro, em cujo blog foi publicada uma primeira versão do texto abaixo, que descreve minhas impressões sobre minha única viagem a Montevideo. É um horror que não tenha ido mais vezes. Para mim, é claro, pois o Uruguai passa muito bem sem mim.
Torres-García |
Montevidéu me pareceu, mesmo, a própria slow life. Terei lido em algum lugar que Hemingway dissera que a Espanha era o último lugar civilizado do mundo? Pois agora é Montevidéu.
Eu, a Nika e meu compadre José Iran fomos até lá de carro, em dezembro de 2007. Passamos por léguas e léguas de campo vazias, e pela estupidez dos mares de eucalipto e pinus da Botnia.
Comemos um filé com chimichurri inacreditável no trevo de Tacuarembó, a cidade das lambretas.
Depois de 2 horas sem cruzar com um único carro, chegamos a um posto de pedágio. A funcionária parou de ler e nos atendeu. Provavelmente foi ilusão de ótica, mas ela pareceu ter se surpreendido.
Emprego perfeito para uma escritora, comentei com a Nika.
Fiquei encantado passando ao largo de Durazno. Olhei para as ruas com árvores altas, casas antiquíssimas dando direto na rua e as pessoas colocando cadeiras para sentar na calçada ao entardecer. Parecia minha pequena cidade de infância. É por isso que o Uruguai não vai para a frente. Ele é feito para a memória.
Em Montevidéu, todos andam com garrafas térmicas e as pequenas cuias de mate debaixo do braço. Eu disse TODOS: os velhos, os homens de terno e gravata, as colegiais adolescentes.
Saí do prédio da Universidade, onde estava em um congresso. Entrei na primeira livraria que vi aberta. Encontrei um livro clássico de um grande historiador uruguaio dos anos 80. O rapaz da livraria aproximou-se e disse: “Gosta do Livro? Quer conhecer o autor?”. E me levou até um canto iluminado, onde um velhinho estava sentado, lendo.
Apontou para o velho: este é o grande historiador. Foi corrigido imediatamente: “já fui… agora apenas assombro livrarias”. Conversamos por mais de uma hora.
Fui ao museu do Torres-García e não comprei uma gravura. Sou uma besta. É fato.
Fiquei olhano o Rio da Prata, com a minha mulher. Por horas.
Além de tudo, o bisavô dela era uruguaio. Migrou para o interior de uma cidade da Campanha Gaúcha.
Lá, era tido por louco, pois tinha modos estranhíssimos: lia e escovava os dentes. Todos os dias.
Quando começou a dizer que os americanos e russos estavam construindo aeronaves para ir à lua, o povo deu o caso por perdido. Era só esperar o velho arrancar as roupas e começar a jogar pedras nas pessoas.
Ja fui a Buenos Aires algumas vezes, mas nunca a Montevideo. Confesso que Tinha um amigo uruguaio muito chato e fiquei com medo que ele representasse a media da populacao. Qualquer dia, quando conseguir a carta de alforria dos guris, me vou pra la com a dignissima.
ResponderExcluirBuenos Aires é uma maravilha, mas Montevideo é algo mais do que "uma pequena Buenos Aires", como já ouvi alguém comentar. Tem personalidade própria. Vale muito a pena.
ResponderExcluirQuanto aos uruguaios que eu conheço, tem para todos os gostos, mas os legais e inteligentes são maioria.