Demorei a postar aqui no blog porque uma torrente de afazeres e prazos me envolveu e não tive tempo para descansar, pensar ou escrever nada que não fosse do trabalho, nas últimas semanas. Foi aí que lembrei do Zen.
Certa vez fui a um retiro Zen. Eu não sabia quase nada do assunto, mas o pouco que tinha lido me interessou: aqui e agora. Colocar a atenção no instante presente, sem atirar a consciência para o futuro ou para o passado. Lutar contra a vertigem da velocidade. Havia uma historinha de um monge que tinha encontrado a paz e a vida longa. Quando seus discípulos perguntaram como conseguira, ele disse: "É que quando eu como eu como, quando eu ando eu ando, e quando eu durmo, eu durmo." Achei legal e aceitei o convite para o tal retiro.
Acontecia em um lugar fantástico, no meio do mato. Houve palestras, leitura e, depois, práticas de meditação. Então, veio uma prática que envolvia ficar 24 horas sem falar com ninguém. Mas não era só isso, não se podia também olhar para ninguém nos olhos, nem ver televisão, nem ler, nem ouvir música. Também se aconselhava o jejum. Para quem não conseguisse manter essa última recomendação, havia uma mesa com frutas secas que podiam ser consumidas. Mas bem devagar, sentindo a textura na boca, rodando na língua, sem pressa.
A única coisa que se podia fazer mesmo era contemplar. Era mesmo um desafio. Quem me conhece sabe a dificuldade que tenho de ficar cinco minutos sem falar. Mas o lugar era lindo, havia trilhas, um lago com uma ilha. Comecei a me empolgar. A prática começava às 8 da noite e se estendia até o mesmo horário do dia seguinte. O instrutor pediu que acordássemos cedo e evitássemos dormir durante o dia, para aproveitar a prática ao máximo.
Acordei às 8 horas. Chovia cântaros. Foi-se pelos ares a minha esperança de caminhar pelo mato ou subir uma colina para ver o horizonte. Levei uns 15 minutos escovando os dentes, daí fui para a sala de meditação. Fiquei lá a maior parte do tempo, à meia luz, sentado. Meditei, meditei, meditei, Quando minhas pernas adormeciam, eu ia até a varanda e ficava lá contemplando a chuva. Depois de muito tempo, comecei a sentir fome. Passei horas com uma castanha na boca (devo confessar que, depois de certo tempo, ficou meio nojento, sabem, a castanha perde a integridade, mas isso é outro assunto). Meditei, meditei, meditei.
Lá pelas tantas notei que a chuva havia parado. Uns damascos e a castanha que eu tinha comido não me satisfizeram, mas eu resistia. A promessa era de uma ceia às 8 horas, como encerramento da prática. Resolvi aproveitar a tarde saindo para caminhar, na tentativa de esquecer a fome. Subi na colina, embarrei os pés e as pernas. Chegando lá, sentei e olhei a paisagem que, de fato, valia a pena. Meditei, meditei, meditei, medite, meditei. Depois de longo tempo, um enxame de abelhas me expulsou do meu recanto bucólico. Quando desci, fui perseguido por uma égua com seu potrilho. Tentei fugir e me embaralhei numa cerca. A cena atrapalhou a meditação de três companheiros que contemplavam tudo da varanda. Eu pude vê-los rindo desesperados e tentando não virar para os outros para comentar. O tempo escurecia quando cheguei de volta à casa, todo embarrado, arranhado, com fome e furioso. Pelo menos, já havia movimento na cozinha e o jantar sairiar logo. Recebi um bilhete que me solicitava uma ajuda na preparação da ceia. Deram-me uma imensa abóbora para descascar, com uma faquinha que só serviria para espalitar os dentes. Alguém aí já descascou abóbora? Pois bem, levei uma eternidade e dei talhos nas mãos enquanto lá fora voltava a chover forte.
Quando finalmente acabei, resolvi ver que horas eram, para me preparar para a ceia. Quando olhei no relógio quase caí para trás. 11 da manhã. 11 da manhã!!
Querem saber? Larguei tudo de mão. Tomei um banho e dormi até às 5 da tarde. Uma maravilha!
Hahahaha! Vc estava vestido com aquele camisolão alaranjado?
ResponderExcluirhehe, não, estava com minhas roupas normais... O Zen não é para qualquer um.
ResponderExcluirHahahahahahahaha! Eu interrompi minha passiva contemplação da tela do computador pra rir. E agora estou comentando com você. Acho que também não levo jeito pra coisa...
ResponderExcluir(é um mosteiro que fica no ES? Tinha vontade de rir lá, isso antes de te ler, claro)
É, vai ser zen assim no meio do mato, com a natureza no teu pé... Imagina uma experiência destas na floresta amazônica, ou no pantanal... Um monte de monges correndo mudos de cobras e lagartos. Será que não dava, pelo menos, para levar um IPad?
ResponderExcluirChorei de rir imaginando a fuga da égua com seu potrilho. A leitura acabou de me tirar o sono que até agora me impedia de trabalhar.
ResponderExcluiresta é umdas das pitorescas historias Luis Augusto que já havia me esqucido, mas que não canso de rir...é, meu irmão, ZEN jeito, isso sim....
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